SEMINÁRIO ESTADUAL DE MULHERES SINTECT RS FECHA O MARÇO DAS MULHERES DE LUTA

SEMINÁRIO ESTADUAL DE MULHERES SINTECT RS FECHA O MARÇO DAS MULHERES DE LUTA

Trabalhadoras e trabalhadores de Correios participaram no sábado dia 25/03, na sede do Sindicato em Porto Alegre, do Seminário Estadual de Mulheres do SINTECT-RS. O encontro integra a programação do “Mês das Mulheres de Luta 2023”, em alusão ao Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março. Durante toda a tarde, as convidas falaram sobre temas relacionados às mulheres e o mundo do trabalho, instigando discussões e reflexões, ao final de cada mesa, foram abertas inscrições para que todas e todos pudessem colocar suas experiências e angústias.

Na abertura do Seminário, as representantes da Comissão de Mulheres do Sindicato fizeram uma breve apresentação e destacaram as ações que estavam sendo desenvolvidas durante o mês. Lembraram a agenda de visitas aos locais de trabalho, nas quais além de levar a discussão sobre as violências contra mulher, fomentaram o diálogo e chamaram todas as colegas e colegas para a importância da luta organizada. A mensagem foi de que um sindicato com grande participação das mulheres é um sindicato forte!

CONJUNTURA POLÍTICA E A LUTA DAS MULHERES

A primeira mesa pautou a Conjuntura Política, contando com a participação de Juliana Ferreira, Neca Nasário, Rejane Oliveira e a mediação da Raquel Medina.  Juliana Ferreira, destacou que é muito comum as mulheres fazerem as lutas, mas o palco ficar para os homens. Também frisou que os avanços, mesmo que sejam pequenos, significam muito e se dão no dia a dia de cada uma. Registrou iniciativas importantes como a Patrulha Maria da Penha, as Casas de Acolhimento à Mulher e não deixou de lamentar as conquistas que foram destruídas e os retrocessos do governo Bolsonaro. Sobre o novo governo, avalia que por ser um governo de coalisão não será fácil, especialmente para as mulheres, mas vê perspectivas importantes de evolução no próximo período.

Na sequência, Neca Nasário, lembrou o quão recente são as conquistas das mulheres. Exemplificando que “Somente em 1979 elas tiveram o direito de jogar futebol; somente em 1988 os direitos das mulheres passaram a ser reconhecidos como iguais aos dos homens; em 2002 não ser mais virgem ainda era motivo para o homem pedir a anulação do casamento”. Neca ressaltou que muitas mulheres sofreram para garantir os direitos que existem hoje, destacando que ainda existem temas de interesse das mulheres que precisam ser debatidos, como o aborto legal. Temas que continuam sendo decididos por homens, mostrando que “as mulheres precisam ocupar seus espaços”.

Rejane de Oliveira, finalizou a rodada de apresentação, lembrando o quão importante havia sido derrotar Bolsonaro, mas que as eleições não resolvem todos os nossos problemas. Ainda é preciso derrotar o bolsonarismo, sem qualquer tipo de anistia. Segundo Rejane, as mulheres tiveram um papel decisivo nas eleições desde o movimento “Ele não”.  Sobre o novo governo, a professora não está tão otimista e acredita que a luta das mulheres deve estar casada com a luta para acabar com o capitalismo, um sistema de oprime e penaliza as trabalhadoras e os trabalhadores. Também frisou que o movimento sindical precisa reafirmar sua autonomia e independência de classe, manter a luta para revogar as reformas, acabar com o trabalho escravo e com as terceirizações. “Não podemos aceitar a lógica do faz de conta. Precisamos exigir o que foi prometido na campanha”, finalizou.

 

VIOLÊNCIAS NO TRABALHO

A segunda mesa, “Violências no Trabalho e Saúde Mental”, foi composta pela advogada Jaqueline Matiazzo Ledur e pela psicóloga Ana Lúcia Oliveira, com a mediação de Raquel Medina. A Dra. Jaqueline, que integra a Assessoria Jurídica do Sindicato, ressaltou a agenda de visitas aos locais de trabalho, da qual também fez parte, marcando da importância da iniciativa, especialmente depois de um tempo em que o Sindicato não podia entrar nos locais de trabalho. “Isso tem um valor simbólico importante, de as mulheres estarem debatendo assuntos tão importantes para a categoria, como a violência no trabalho, nos seus próprios locais”, pontuou ela.

A advogada destacou que a violência no trabalho é um tema muito maior do que o assédio moral e sexual, se abre para outras questões e situações que, infelizmente, ocorrem no ambiente de trabalho. Para ela, a retirada de direitos, que ataca principalmente as mulheres, também é uma violência. “Por isso a importância das visitas, da distribuição da cartilha, dos informativos. Nas visitas se consegue ver de maneira mais concreta o assédio moral, os casos do dia a dia, a discriminação, em especial com a mulher. As visitas materializam o que a gente vem discutindo com as trabalhadoras”, esclareceu.

Jaqueline disse que as situações de violências que chegam ao Sindicato, ficaram mais difíceis nos últimos 4 anos, período no qual o foi incentivado machismo, crescendo as agressões e a desvalorização da mulher. “São brincadeiras de mau gosto, piadinhas que com o tempo se tornam situações de assédio moral, que causam sofrimento. A categoria acaba adoecendo, muitas vezes o sofrimento não é físico, é mental, psicológico, por passar por situações tão desagradáveis que podem gerar doenças. Assim, é importante trabalhar com a ideia de prevenção para evitar que os casos cheguem ao extremo de as mulheres adoecerem, de terem que se afastar”, alertou ela.

Reforçando a ideia de trabalhar com o coletivo, ter um olhar de solidariedade, oferecer ajuda, conversar com os colegas, orientar para a busca de ajuda profissional. “A pessoa nem sempre identifica que está sendo vítima de assédio moral”, esclareceu. Do ponto de vista jurídico, a especialista acrescentou é comum que a vítima, na primeira situação de assédio sofrida, nem sequer busque ajuda. Por isso a importância das campanhas de denuncia, para além da justiça do assediador ser punido, o fato gera efeito pedagógico para que a situação não se repita com outras pessoas. “O Sindicato está de portas abertas para acolher e encaminhar o que for necessário. É preciso denunciar o assédio”, finalizou.

 

NÃO É “MI MI MI”

A psicóloga Ana Lúcia iniciou destacando a importância do tema e reiterou que o assédio leva a muitos casos de afastamento do trabalho e a danos graves, que exigem tratamento durante anos. “Não é algo que se resolve com comprimidos. É algo que mexe com a sua vida no trabalho, na família, na sociedade”, frisou. Para ela, a própria definição do que é assedio mostra o quanto a prática, é intencional. São palavras, gestos e ações, que causam danos à dignidade. “Pequenas atitudes vão causando grande estrago, comentários que colocam as mulheres no papel de objeto”.

Ana lembrou que a mulher é tão objetificada que somente em 2022, por exemplo, começou a ter o direito de fazer laqueadura sem a autorização do marido. “E nos ambientes de trabalho, ainda mais como no Correios, de maioria masculina, ela ainda é objeto do masculino e não do feminino, vivendo sob uma cultura machista e quando elas adoecem, é comum ouvirem que estão fazendo corpo mole, e coisas piores. A tortura psicológica é feita aos poucos, vai minando a autoestima e a sensibilidade, é tão sutil que a mulher pode começar a pensar que está mesmo errada. Se existe a dúvida, se tem sensação ruim, é porque o que se está vivendo não está certo, então busque ajuda. Pergunte, se informe. Tudo que cai mal, que nos faz sentir estranha, não é normal”, ensina a psicóloga.

O assédio moral também causa estresse pós-traumático, com sintomas como depressão, transtorno de pânico, transtorno alimentar e do sono, dificuldade de se relacionar, prejuízos com a família. “Não é mi mi mi. Precisamos cuidar porque as ações de assédio causam sintomas que nos levam a desacreditar na gente, no nosso potencial, e nos deixam frágeis, possibilitando sermos manipuladas por alguém que pode usar esta fragilidade. Nos últimos quatro anos se abriram portas perigosas, como que mulheres feias não merecem ser estupradas, que tem que ganhar mesmo porque engravidam, entre outras. Piada ou brincadeira, de forma intencional, prolongada e consecutiva, é assédio moral. Pode ser de colegas homens e até de colegas mulheres. Busque ajuda de forma imediata antes que a situação cresça demais. Também porque a partir do assédio moral entra o assédio sexual. Depois da violência psicológica, vem a violência física, e isso precisa ser denunciado. Por isso é tão importante cuidar uma das outras, a isso chamamos sororidade”, finalizou.

 

Entre as duas mesas foram abertas falas para que as pessoas participantes do Seminário fizessem comentários e esclarecessem dúvidas. Tivemos a participação da atração cultural da “Val, assistente comercial” personagem do artista Vitor Hugo. Para finalizar foi oferecido lanche e a colega Telma, como sua família percursionista, alegrou o final da tarde e do evento.

Lembramos que as visitas aos locais de trabalho continuam até o final do mês, reforçamos a importância da participação das colegas e dos colegas. Tanto pela importância da pauta do Março da Mulheres como para reforçar a relevância das visitas nos locais de trabalho, que são um instrumento da luta coletiva das trabalhadoras e trabalhadores e ser valorizado.

Confira fotos do evento

 

Assessoria de Comunicação

02/04/2023 23:07:32

Nara Soter

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