Carta de Manifesto dos Atendentes Comerciais dos Correios
Buenas, com o devido respeito alusivo à capacidade e experiência dos quadros de funcionários de agências da ECT, manifestamos por meio desta carta, nosso profundo lamento com relação à incorporação de parte do serviço do INSS pela nossa rede de atendimento a partir de outubro de 2024. Temos a certeza de que expressamos aqui opinião compartilhada pela ampla maioria dos atendentes de nossa empresa. Como se não bastasse a enorme quantidade de opções de produtos, serviços, dados, informações e características relativas às atividades próprias dos Correios, temos agora que conhecer, dominar e agregar mais este tipo de demanda externa à nossa organização sem receber qualquer incentivo financeiro para tal.
É mínima a atenção dispensada pela ECT aos profissionais que atuam nos guichês, local por onde entra e trafega todo o lucro da nossa estatal. Parece haver um descompasso entre a atual postura da empresa, que na última década deixou de vez para trás aquele caráter estritamente social e adotou uma abordagem notadamente comercial, mas que não premia de maneira equivalente os funcionários de agências com ganhos por resultados atingidos. A atribuição cada vez maior de metas sobre produtos e serviços do Correios e de terceiros acaba sufocando os trabalhadores que não recebem comissão alguma pelas vendas registradas. Será que pensam que nos contentamos com meras participações em sorteios regionais e nacionais, distantes da realidade, condicionados a números muito acima da média, ou que gostamos do recebimento de brindes muitas vezes risíveis? É Carnê do Baú, Telesenas, títulos de capitalização (CAPs), seguros CNP, convênio de saúde Olik, convênio odontológico, cursos à distância do Ceped, consultas e acordos do Serasa, chips de telefonia do Correios Celular, e ainda metas de arrecadação de doações para hospitais e entidades filantrópicas. A lista só cresce, exigindo empenho, persuasão, e tudo isso sem ganhar quase nada de volta por venda realizada.
E não entendam aqui crítica ao Balcão do Cidadão, uma saudável iniciativa para inclusão social da população com dificuldade de acesso a serviços públicos básicos, mas um questionamento direto do porquê do não incentivo pecuniário a estes profissionais em questão, seja por comissões de vendas, seja por um adicional de atendimento verdadeiramente coerente com a carga de responsabilidades e conhecimentos destes trabalhadores.
O fato inquestionável que observamos é que só aumenta o nosso já vasto espectro de produtos, serviços e informações, e a contrapartida é somente a lembrança de que temos que agradecer por nossos empregos e postos de trabalho, como se diariamente tivéssemos a obrigação de convencer e vender somente por amor ao Correios. Agora comparem minimamente o salário dos servidores balconistas do INSS com o dos atendentes comerciais da ECT… Os nossos vencimentos, em média, não chegam a um quarto dos deles, e agora temos também que resolver demandas do Instituto Nacional do Seguro Social. Se eles estão com déficit no quadro de pessoal, o que dizer do nosso, descaracterizado e defasado há mais de dez anos sem concurso e sem reposição de trabalhadores falecidos, aposentados e desligados por outros motivos? Tal condição, tendo em vista o propósito dialético e de valorização das pessoas empunhado pela gestão atual da empresa, não condiz com a realidade com que são confrontados todos os dias os empregados ecetistas do atendimento ao público nas agências.
Por fim, sem mais delongas e queixumes, gostaríamos de deixar aqui registrado nosso descontentamento com relação a esta novidade de serviços do INSS disponíveis em nossas agências. Compreendemos que integramos um corpo funcional equânime, composto de operadores de triagem e transbordo, carteiros, atendentes e funcionários administrativos que não podem, de maneira alguma, todos, sem exceção, serem subvalorizados em suas atividades que compõem as receitas e os resultados coletivos desta gigantesca estatal brasileira.