Trabalhadoras realizam encontro e debatem importantes temas relacionados às questões femininas

Durante todo o dia do domingo (9), trabalhadoras dos Correios de Porto Alegre e de outras localidades estiveram reunidas na sede da entidade, debatendo temas de interesse das mulheres, no Encontro Estadual de Mulheres, promovido pelo SINTECT-RS e organizado pela Comissão de Mulheres da entidade.

Na abertura, a responsável pela Secretaria da Mulher, Raquel Medina, deixou clara a importância da Comissão na condução dos temas de interesse das mulheres e frisou o trabalho que todas tiveram para proporcionar que as trabalhadoras pudessem participar do encontro. “Procuramos debater assuntos que dizem respeito a luta diária das mulheres dos Correios, como assédio moral, sexual e saúde da mulher e, também, sobre causas maiores, como reforma da previdência, trabalhista e retrocesso nos direitos”, esclareceu ela.  “Debater estas questões é uma forma de nos fortalecermos, inclusive no meio sindical, combatendo todas as dificuldades que enfrentamos, desde a hora que acordamos até a hora que vamos dormir. Nosso objetivo é que as mulheres participem mais de todas as atividades do Sindicato porque temos que ocupar nossos espaços e não podemos ficar de braços cruzados”, acrescentou.

Já Viviane, Carteira do CDD Zona Norte e integrante da Comissão, reiterou a importância do evento. “Nada disso seria possível se a Comissão não estivesse funcionando. A pauta foi pensada coletivamente, de forma a atender os problemas da categoria, resistir aos fortes ataques do governo e pensarmos o que vamos sofrer se passarem as reformas. Sabemos da importância de estarmos lutando e das mulheres tomarem a frente da luta”, disse ela.

Ainda durante a abertura, Cleonice, do CDD Cidade Baixa, também destacou a importância do Encontro e frisou que se tratava de um momento para as trabalhadoras conversarem sobre suas dificuldades. “É muito importante fazermos um trabalho junto as colegas, para que percebam a necessidade de estarmos juntas nesta batalha”.

“Todas em todos os espaços”

Ainda na parte da manhã, teve a apresentação da primeira palestrante. A Assistente Social e especialista em saúde pública Suzana Souza, da prefeitura de Viamão e integrante da ACMUN (Associação Cultural de Mulheres Negras) falou sobre a saúde da mulher. Segundo a especialista, apesar do SUS ser universal, ou seja, qualquer pessoa ter direito, o atendimento na saúde é diferenciada quando são mulheres pobres, da periferia ou negras. Neste sentido, ensinou, é preciso informação e conhecimento sobre atendimento do Sistema Único de Saúde, independente de ter ou não plano de saúde.

Ela acrescentou que as mulheres precisam estar atentas quanto a doenças como sífilis, HIV, diabetes, AVC. No caso da sífiles, disse ela, há um crescimento alarmante entre os adolescentes e neste caso ou de qualquer outra doença, é fundamental informação a partir de debates como o que estava sendo realizado pelas trabalhadoras dos Correios. “Temos que levar todas para todos os espaços, por que quando uma sobe, as outras sobem também. As mulheres têm que se unir”.

Defesa pessoal

Em seguida a palestra, as participantes do Encontro tiveram uma espécie de oficina com informações e apresentação de técnicas de autodefesa. O grupo de Krav Maga explicou que a arte surgiu como defesa com objetivo de combate para enfrentar qualquer agressor, embora algumas técnicas, como as para enfrentar armas brancas e armas de fogo requeiram anos de treinamento.

Mesmo assim, foram ensinadas algumas  técnicas em caso de agressão como ataque ao pescoço (estrangulamento), roubo de bolsas e puxões pelos cabelos. “O objetivo é sobreviver frente a qualquer ameaça”, explicou o instrutor do grupo. Para maiores informações sobre a escola e cursos, é só acessar o site www.kravmaga.com.br.

Reforma da previdência

Na parte da tarde, o Encontro de Mulheres continuou com palestras sobre reforma da previdência e assédio moral e sexual.

A professora da rede pública estadual e integrante do Movimento Mulheres em Luta, Resplande de Sá, falou sobre a reforma da previdência e chamou todas a lutarem por seus direitos. Destacou que esta reforma atinge mais fortemente as mulheres, do campo e da cidade, e que se trata de um movimento internacional de retirada de direitos que vem acontecendo em outros países, como a Grécia, por exemplo. “Esta reforma tem um caráter que é atingir os trabalhadores pobres e as trabalhadoras em especial”.

Segundo ela, a propaganda do governo de déficit é um mito. “O governo começou a soltar propagandas e a Rede Globo dentro da sua programação vem ressaltando a importância de se aposentar mais tarde, como se fosse muito legal. As diferenças regionais não estão sendo levadas em conta”, explicou. Lembrou que os desvios da previdência não acontecem de hoje, vem desde as décadas de 50/60, com a construção da Transamazônia, da Ponte Rio-Niterói e de Brasília, obras que foram financiadas com recursos da previdência. De lá para cá, esta situação não mudou. Soma-se a isso, as isenções fiscais e mesmo assim, entre 2011 e 2015 houve um superávit na previdência”.

A professora informou que o texto já foi aprovado  em uma das Comissões e precisa passar pela Câmara em duas votações, depois pelo Senado e depois, se aprovado, vai para sanção do presidente e passa a valer imediatamente.

No segundo momento da tarde, foi apresentado, pela Dra. Jaqueline Mattiazzo Ledur, da assessoria jurídica do Sindicato, um painel sobre assédio moral e sexual. A advogada esclareceu sobre os aspectos jurídicos do assédio e respondeu a dúvidas das trabalhadoras. Muitas, ao falarem, deram depoimentos importantes de assédio moral e sexual dentro dos Correios, inclusive com relatos de trabalhadoras que tiveram que fazer tratamento psiquiátrico por situações de assédio moral.

Sobre o assédio sexual, a especialista esclareceu que já existe lei que enquadra a prática, como a lei 10.224/2001 e que o assédio sexual não acontece apenas com a relação sexual. “Há casos clássicos de assédio em condições impostas para uma promoção que envolve favores sexuais com ameaça de demissão caso a trabalhadora recuse”, informou.

Jaqueline esclareceu, ainda, que a empresa é responsável, já que tem o dever de fiscalizar. “O ambiente de trabalho também é responsabilidade da empresa. Por isso a empresa pode ser condenada por situação entre dois colegas”, informou.

“Reuniões em unidades, palestras como as de hoje, inserções do tema na CIPA são ações importantes para tratar a questão. A palavra principal é o respeito. Existe um limite que muitas vezes acaba sendo ultrapassado por várias razões, inclusive despreparo das chefias para exercer um cargo de gestão”, concluiu ela, reforçando que em qualquer situação é importante procurar o Sindicato.

“Cada uma será uma a mais”

O último painel do Encontro de Mulheres foi apresentado pela colega Cláudia, que destacou que o SINTECT-RS tem situações que outras entidades não tem. “Numa categoria que tem 80% de homens, ter uma diretoria de mulheres e também de LGTB é muito positivo”. Ela também destacou que é a partir de encontro como este que é possível disseminar os conhecimentos adquiridos. “Cada uma será uma a mais”. Cláudia lembrou que as mulheres são mais de 50% da população; mais de 60% são chefes do lar, mas ainda têm que conviver com o machismo e com a ausência de políticas públicas para as mulheres.

Outros temas apontados por ela foram relacionados a saúde, educação e ausência do Estado para melhorar as condições para as mulheres. Sobre a Lei Maria da Penha, considerou que apesar de ser progressista, foi pouco efetiva no combate a violência contra as mulheres, que continuam sendo mortas por homens do seu círculo de afeto, além das deficiências e desestruturação das delegacias das mulheres. “A lei não conseguiu dar resposta para tudo que está acontecendo com as mulheres”, alertou.

Sobre o aborto, esclareceu que “cada mulher tem o direito de decidir sobre seu corpo, se faz ou não aborto. É uma questão de saúde pública que exige políticas públicas que devem ser colocadas de forma emergencial”.

Por fim colocou duas questões pouco debatidas, relacionadas a impostos e políticas para as mulheres, mas que precisam estar na agenda de lutas, que são os restaurantes populares e lavanderias.

No final do encontro, como encaminhamento, ficou definido estudar a possibilidade de levar os encontros de mulheres para as subsedes e estruturar núcleos de mulheres no interior.

Outras atividades

As participantes do encontro participaram ainda de sorteio de três aquarelas com temas femininos da artista plástica Márcia Antunes, puderam fazer massagem com a massoterapeuta Miriam Peña e tranças nos cabelos, com a trancista haitiana Ruth Petti.

No final foi realizado um momento de confraternização, com apresentação musical da cantora Daia Moraes e os músicos Salgadinho e João JB.

 

POEMA LIDO DURANTE O ENCONTRO

(De Mariana Felix)

Cresci ralando na boquinha da garrafa

No que te surpreende o Mc Brinquedo ser fã do Mc Catra?

Afinal já me diziam: “Olha a bunda ô Raimunda

Subiu a temperatura ô Raimunda”

Raimunda, menina que enjoo de boneca

Não quis mais vestir timão

Deveria ter tido outras músicas de opção e quem sabe então ela perceberia que não é normal

Ser só objeto sexual

Mas não!

O Califa ficou de olho no decote dela

Ficou de olho no biquinho do peitinho dela

Ficou de olho no balanço das cadeiras dela

E o mundo fez de Raimunda

Outra síndrome de Cinderela

Afinal nos fabricaram pra ser Amélia

Servir sem vaidade

Nos ensinaram a ser mulher e de verdade!

Na caixa! Plastificada!

Só esperando pra ser usual

Ao ouvir a pergunta de um menino de 13 anos:

“Se essa boneca sabe ser profissional”

“Mamar seu brinquedo?”

Criança o nome disso é pedofilia disfarçada nesse seu enredo

Da apologia pós moderna funk social

Nada do que também não acontece em Salvador no Carnaval

As amantes, as fiel e o homem valorizando a guerra entre elas, tipo: dono do bordel

E eles gritam: “só as cachorras, as preparadas”

Tô preparada sim, pra não ser mais usada!

Segura esse seu tcham

Amarra bem esse seu tcham

Senão o tcham tcham tcham

Vai ser você acordar sem ele de manhã

Eduque seus bodes!

Porque hoje as cabras estão com a pá virada!

Cansamos de ser carne servida na mesa, enquanto o machismo justifica frases que fazem das mulheres escravas

Dói, o seu tapa me dói, o seu tapa me dói

Eu vou logo ligar 180!

Tô atoladinha das suas hipocrisias!

Moralistas!

Adoram as meninas que rebolam

Mas após o casório

São com as santas que eles querem assinar no cartório

Recalcada?

Meça suas palavras Parça!

Você que é incompetente no amor e eu que sou a mal amada?

Os machistas estão passando mal

Sem argumento

Tremendo de medo

Apelando de novo

Com seus xingamentos

Garotos, Leoni ja avisou

Dificilmente vocês vão resistir aos nossos mistérios

Sempre tão espertos

São só garotos!

Espero que a poesia não tenha tom de ameaça

É na força das palavras que está a graça

E aos manos, minas e monas que já abraçam a causa…

Bom, vocês tão ligados:

“Tá tranquilo, tá favorável”

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Assessoria de Comunicação

09/07/2017 22:58:23

Nara Soter