Moção de Apoio ao Quilombo do KEDI aprovada no Seminário do Mês da Consciência Negra

Moção de Apoio ao Quilombo do KEDI aprovada no Seminário do Mês da Consciência Negra

O melhor desenho que se faz da luta de classe no Brasil é a disputa injusta e desigual entre o mercado imobiliário e as comunidades quilombolas.

A estética europeia ainda hoje é reivindicada pelos herdeiros da elite colonial oligárquica e racista, e transformar bairros da cidade em espelhos da nobreza eurocêntrica é o que move a principal fatia do poderoso setor econômico da construção civil. Permitir qualquer traço do continente africano ou mesmo do novo mundo no desenho arquitetônico da cidade é uma afronta a imaginação da burguesia nacional.

Mas os quilombos existem. E a necessidade da mobilização e organização como elemento principal de resistência ao assédio da especulação imobiliária é a melhor tática considerando a gigantesca diferença entre os recursos propostos por ambos os lados nessa guerra por espaço.

Uma guerra que tem números:

Pesquisa feita pela coordenação nacional de articulação das comunidades quilombolas (CONAQ) apontam o crescimento da violência em comunidades tradicionais. Entre 2018 e 2022 houve 32 assassinatos em 11 estados motivados por conflitos fundiários e violência de gênero. Ao menos 13 quilombolas foram mortos no contexto de luta e defesa do território. Em 2023, levantamento preliminar aponta 7 mortes. Nos últimos 15 anos, 70 quilombolas foram assassinados em terras brasilis.

O Rio Grande do Sul tem 146 comunidades quilombolas, 130 dos quais já certificadas pela fundação palmares, e apenas 2 efetivamente titulados. Um deles em Porto Alegre, no metro quadrado mais caro da cidade, a saber Nilo Peçanha, imediações do shopping Iguatemi.

Em que pese à necessidade de vigilância sobre todos os territórios negros do estado, visto os constantes ataques do poder econômico e seus interesses rentistas nesses campos sagrados pra comunidade negra, um deles se destaca entre os mais de 11 quilombos mapeados na capital gaúcha, a saber, o Quilombo Kédi, na Avenida Nilo Peçanha, 2100. Num contexto em que perdeu o embate pro Quilombo Silva (vizinho próxima do kédi), hoje titulado e em tese protegido das garras capitalistas, o empreendedorismo imobiliário avança com força e com raiva sobre a comunidade do Kédi, com invasões por esbulho (na terça, 14/11/2023) ou militarizados (na quinta, 16/11/2023), numa clara afronta ao dito estado democrático de direito, aqui subentendido como estruturas institucionais públicas a serviço do capital.

O contraponto ao insano assédio econômico da estética imobiliária burguesa deve ser a solidariedade de classe de todo o setor operário, social e estudantil em uma barreira única de contenção de classe contra o mesmo explorador.

É necessário exigir do governo Lula/Alckmin que acelere os trâmites do INCRA rumo à titulação dos territórios quilombolas, e é necessário exigir de Mello uma postura menos subalterna ao setor imobiliário municipal.

Mas acima de tudo, é necessário identificar o que existe de mais gritante nessa situação: o déficit habitacional no Brasil tem o desenho da Nilo Peçanha: É racista, elitista, excludente, e não aceita questionamento sobre o corte de poder na sociedade.

O Quilombo de Palmares representou a experiência de uma sociedade socialista em pleno século 17. A convicção de que a união dos oprimidos era a arma mais poderosa no enfrentamento contra o opressor. Precisamos reviver urgentemente a memória dos eventos palmarinos. A luta se materializa no Quilombo Kédi.

O Combate tem que ser com Raça e Classe!!!!

 

 

 

 

 

 

Nara Soter

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