SINTECT-RS rebate o editorial da Folha de S. Paulo

SINTECT-RS rebate o editorial da Folha de S. Paulo

A ideia neoliberal de entregar tudo o que é público para a iniciativa privada já é bem conhecida pela população brasileira. A telefonia que o diga!

No dia 8 de setembro, o editorial da Folha de S.Paulo apresentou sua “opinião” a respeito da situação econômica dos Correios, intitulado: “É urgente privatizar os Correios”.

Na história, aprendemos que, para entender o que as palavras querem dizer, precisamos saber a intenção de quem as proferiu. Sendo assim, vamos conhecer a empresa de “notícias” Folha de S.Paulo.

A Folha de S.Paulo faz parte do conglomerado Grupo Folha, que possui ainda, segundo o seu site, uma revista (Guia Folha), o site de notícias UOL e, pasmem, um braço de logística, a SBDL. No mínimo, intrigante!

No entanto, antes de colocarmos nossa “opinião editorial” a respeito da Folha de S.Paulo, vamos trazer mais algumas informações a respeito da tão “isenta” instituição de comunicação comercial.

Como toda empresa, ela possui uma missão, que está em seu site para quem quiser ver: “produzir e organizar conteúdo jornalístico crítico, plural e apartidário”.
Somente neste ponto já poderíamos apontar muitas críticas (de fato): o que querem dizer com apartidário (não seria antitrabalhador?); e com plural (não seria pró-empresarial?). E aqui nem vamos entrar na questão do jornalismo crítico… Para uma empresa jornalística que precisa vender notícias e não trazê-las, a crítica passa longe.

Entretanto, a visão é míope (vamos colocar desta forma): a Folha, sendo uma instituição que afirma ter o objetivo de “contribuir para o aprimoramento da democracia e a redução das desigualdades no Brasil”, não percebe a importância de uma instituição como os Correios, que está presente em todo o território brasileiro e, em muitos locais, é o único recurso de populações dos mais variados rincões do país. É a empresa que é acionada para dar solução a situações de emergência, como no caso do golpe aos aposentados. Isso é se preocupar com as desigualdades? Ou estão pensando em ampliar seu braço logístico, tentando deslegitimar uma empresa pública que tem mais de 300 anos de história?

Poderíamos ainda falar dos “valores” que estão apontados no site, mas deixamos a reflexão para quem lê este texto, pois o que nos parece é que, para eles, só o que interessa são “valores em espécie”.

Vamos adiante, ao tal editorial.

Já na primeira frase, temos — ou falta de conhecimento de quem escreveu, ou, como diria Nicolau Maquiavel, a ideia de que “não precisa ser, basta parecer ser”. A questão da ideologia parece estar sendo instrumentalizada por quem escreveu. Segundo um “barbudo” que assusta até hoje os economistas e seus asseclas, quando estamos bêbados por nossas percepções, nossos interesses falam mais alto.

Na sequência do texto, o vazio histórico aparece como arma ideológica (para parafrasear quem escreveu tal editorial): a importância da empresa passa longe das “preocupações” do editorial da Folha de S.Paulo. Bastaria, como se diz hoje, “dar um Google”, e apareceriam as múltiplas funções que os trabalhadores e trabalhadoras ecetistas exercem todos os dias na construção do nosso país: além da entrega de correspondências, interligando pessoas e empresas, levando notícias para todos os cantos do país, a empresa também atua na entrega de medicamentos, na logística das eleições (entregando as urnas eletrônicas), nas provas do ENEM, entre várias outras atividades. Nessa simples pesquisa no Google, ainda apareceria a informação de que os Correios estiveram inúmeras vezes no ranking como a empresa mais lembrada na pesquisa Top of Mind.

Poderíamos ainda apresentar tantas outras ações das trabalhadoras e trabalhadores ecetistas, que ajudam a mitigar mazelas históricas em nosso país, mas isso tornaria este texto interminável. Assim, vamos ao que mais interessa aos “neoliberalóides zumbis”, que não podem ver uma empresa pública eficiente sem logo saírem falando: “Privatização, privatização!”.

A matéria traz o prejuízo que a empresa teve no último período — R$ 4,4 bilhões — e centra toda sua retórica nesse ponto. No entanto, o passado recente não é mencionado: o processo de sucateamento acelerado no governo Jair Bolsonaro, que tinha como centralidade a privatização da empresa, além dos processos de reengenharia — que poderíamos chamar de precarização — nos governos do Partido dos Trabalhadores, que apostaram na terceirização e não na contratação por concurso público, causaram um dano enorme à instituição.

E aqui temos que fazer uma análise lúcida do momento em que vivemos.
O Executivo, na figura do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, retirou a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos do guarda-chuva das privatizações e isso, para a nossa categoria, foi positivo — mas não foi o suficiente. O investimento que deveria acontecer não aconteceu, as contratações do então concurso público não ocorreram, e o próprio Governo Federal, na figura do ministro Fernando Haddad, para contentar o “mercado”, implementou medidas que prejudicaram diretamente os Correios.

Uma delas foi liberar a entrega de encomendas internacionais para outras empresas continentais que são do ramo de encomendas. Outra medida foi o PL 914/2024, que se popularizou como a “PEC das blusinhas”, que limitou em cinquenta dólares as compras internacionais.

Esses movimentos tiraram do fluxo postal dos Correios mais de um milhão de encomendas por dia, segundo o presidente da ECT, Fabiano Silva dos Santos, em reunião com as federações e sindicatos da categoria.

A essencialidade de uma empresa pública do porte da ECT já foi apresentada acima. No entanto, vale lembrar que empresas públicas não são criadas com o intuito de dar lucro, mas sim para atender às necessidades da população, com serviços de qualidade. E, para que isso aconteça, os governos de plantão devem investir na melhoria dessas instituições — o que passa pela contratação por concurso público, por investimentos em estrutura e, claro, pela observação das mudanças no tecido social para, assim, aplicar mudanças necessárias para melhor atender seus cidadãos.

E aqui chegamos a um ponto importante de nossa crítica ao editorial, quando este finaliza apontando que uma “gestão privada, sob regulação forte, pode modernizar, reduzir custos e manter o serviço universal”.

Vamos pegar a questão dos custos, primeiro.
Lembrando a questão das telefonias: segundo matéria da Revista Piauí, de 2 de julho de 2024, a operadora Oi foi beneficiada em um acordo firmado entre a Anatel e o Ministério das Comunicações, aprovado pelo Tribunal de Contas da União, no qual o poder público abriu mão de 17 bilhões de reais. Pensando sobre isso, não seria o caso de estatizar a operadora novamente?

Vamos pensar agora sobre a questão da modernização, que, pelo que observamos, passa pela redução de custos.
Dois momentos tristes de nossa história recente passam por esse pensamento neoliberal, que vem se tornando hegemônico no debate público nos últimos tempos: os casos de Mariana (2015) e Brumadinho (2019).

A Vale foi privatizada no período Fernando Henrique Cardoso, retirando receita dos cofres públicos e passando para a iniciativa privada. No entanto, o que se viu foi a prática enfadonha neoliberal de que somente o lucro importa. Vimos no que deu esse tipo de pensamento, que culminou em dois desastres ambientais provocados pela negligência da visão do lucro, de proporções nunca antes vistas. Vidas se perderam, biomas se foram.

O custo social não faz parte dos cálculos dos empresários. Aquilo que o Grupo Folha traz na sua visão empresarial — que fala em redução das desigualdades — passa longe quando a única coisa a se conseguir é a “grana”.

Este editorial da Folha deve ser rechaçado não só pelas e pelos ecetistas, mas também pelas brasileiras e brasileiros. Como confiar na opinião de uma empresa de notícias que faz parte de um conglomerado empresarial, dono do PagBank, que intermedia pagamentos, e também possui um braço logístico especializado em distribuição, incluindo e-commerce?

Neste momento pelo qual passamos, em que ataques com taxações do imperialismo atingem diretamente nosso país, defender nossas instituições é fundamental. Para aqueles que têm a ânsia privatista, que tal pensarem em editoriais que proponham a venda de outras empresas de correios? Aliás, uma delas teve um prejuízo de 6,5 bilhões — só que de dólares… Será que essa vale um editorial da Folha de São (que não tem nada de santo) Paulo?

 

Nara Soter

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