Saiu na imprensa: Correios faz mutirão para regularizar entregas
Segundo a ECT, número de carteiros não teve significativa alteração /MARCELO G. RIBEIRO/JC Igor Natusch Nos últimos meses, quem tem cartas e encomendas a receber em Porto Alegre vivencia uma desagradável realidade de atrasos. O problema já acontece, em maior ou menor grau, há vários anos, mas exacerbou-se a partir de novembro, com o fluxo das encomendas de fim de ano. A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), razão jurídica dos Correios, admite os problemas, mas garante que está agindo para diminuir o déficit nas entregas – uma medida tornada mais complexa diante do desequilíbrio financeiro que atinge a instituição.
Na Zona Sul, moradores de bairros como Camaquã e Cavalhada relataram grande atraso recente na entrega de correspondências, incluindo guias para pagamento de contas. Há, também, reclamações, em diferentes pontos da cidade, de demora ou mesmo extravio de entregas não expressas, serviço conhecido pela sigla PAC. Em um dos casos denunciados à reportagem, registrado na Tristeza, uma encomenda, que era para ser entregue antes das festas de Natal, só chegou na metade de janeiro.
No Partenon, por sua vez, o problema é outro. Quem estava acostumado a retirar suas encomendas no Centro de Distribuição Domiciliária (CDD) do bairro foi surpreendido, no ano passado, com o fechamento da unidade. Agora, quem tiver uma encomenda que não possa ou não consiga receber em casa precisa ir ao CDD Antônio de Carvalho, na avenida Bento Gonçalves.
De acordo com a filial dos Correios no Rio Grande do Sul, “houve significativo aumento do número de correspondências e encomendas a serem entregues no início do ano, o que pode ter ocasionado demora em alguns locais”. Para suprir a demanda, a empresa diz estar tomando medidas como a liberação de horas extras, além de direcionar os empregados para unidades com maior demanda e promover a contratação de trabalhadores temporários. Especificamente no Centro de Entrega de Encomendas da Zona Sul de Porto Alegre, estava programada a realização de um mutirão para agilizar a entrega.
Os números apresentados à reportagem apontam uma diminuição no total de carteiros em atividade na Capital. Segundo os Correios, são 812 funcionários ativos, além de 16 trabalhadores temporários. Nos anos de 2016 e 2017, eram 826 empregados na função em Porto Alegre.
Quanto ao fechamento do CDD Partenon, a Coordenação de Comunicação do órgão afirma que esta foi uma das duas unidades fechadas na Capital em 2017, junto com o CDD Auxiliadora, que ficava na Félix da Cunha e foi incorporado pelo CDD Zona Norte, no bairro Navegantes. “Apesar das mudanças de sede dos CDDs, a área de entrega nos bairros atendidos por essas unidades não foi afetada, e o número de carteiros não foi alterado”, garante a empresa.
Os fechamentos e a necessidade de buscar alternativas para entrega têm uma explicação notória: a situação periclitante que a ECT enfrenta há alguns anos. “Sobre a situação financeira da empresa, conforme amplamente divulgado, os Correios vêm passando por uma crise que gerou prejuízos bilionários nos últimos três anos”, diz a resposta escrita enviada pela empresa. Para reverter o quadro, estariam sendo adotadas medidas como a revisão de contratos; a busca de maior participação dos Correios no segmento de encomendas; e a redução de custos com pessoal e encargos sociais.
Em 2017, um total de 6,2 mil empregados aderiram ao Plano de Desligamento Incentivado em todo o País, gerando economia mensal de R$ 69 milhões. Em janeiro deste ano, outros 1,6 mil empregados aderiram ao plano, cortando custos na ordem de R$ 20 milhões.
Para sindicato, atrasos são consequência direta da falta de reposição de trabalhadores
Na visão de João Augusto de Moraes Gomes, secretário de Comunicação do Sindicato dos Trabalhadores em Correios e Telégrafos do Rio Grande do Sul (Sintect-RS), os atrasos têm correspondência direta com a inexistência de contratações, o que gera um déficit de pessoal, em especial, entre os carteiros. “A ECT não trabalha para resolver isso. O último concurso foi em 2011. De lá para cá, as contratações foram quase inexistentes”, afirma.
Na semana passada, durante visita ao CDD Vila Jardim, o sindicato teria constatado a ausência de 22 dos 70 carteiros previstos para a região, entre funcionários que entraram no Programa de Demissão Voluntária, estão em outras funções ou em afastamento, por motivos administrativos ou de saúde. “Isso gera um acúmulo de correspondências, em especial, de objetos adquiridos pela internet. É um volume muito grande, há cada vez menos gente para as entregas, e vira uma bola de neve.”
Segundo ele, a empresa acaba apostando no remanejo de pessoal, como a adoção de um modelo de Distribuição Domiciliar Alternativa, no qual aumenta o perímetro de entrega dos carteiros e o profissional não passa todos os dias nas mesmas ruas. Outra opção da ECT, segundo Gomes, é o esforço em terceirizar as operações de triagem e transbordo, fazendo com que os concursados para a função girem entre as funções de carteiro e atendente. “São medidas paliativas, que aumentam a carga de trabalho sobre o trabalhador. É um cobertor curto”, resume.
No momento, está em discussão, no Tribunal Superior do Trabalho, o pagamento do plano de saúde dos servidores da ECT. Uma reunião de mediação estava agendada para o dia 22 deste mês. A ideia dos representantes patronais é acabar com a extensão do benefício aos familiares dos trabalhadores. Segundo os Correios, “o saneamento do plano é fundamental para o equilíbrio das contas”. Por sua vez, o Sintect-RS diz que os valores são um complemento aos baixos salários e que a retirada das famílias deixaria ainda mais precária as condições de vida dos profissionais.
Jornal do Comércio – (http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2018/02/internacional/613139-correios-faz-mutirao-para-regularizar-entregas.html)