Audiência pública busca alternativas para os problemas dos Correios

Representantes do Sindicato e da categoria participaram, dia 9 de junho, da Audiência Pública realizada na Assembleia Legislativa do RS, promovida pela deputada federal Maria do Rosário (PT/RS). Apesar do propósito da audiência ser debater o Projeto de Lei 7683/2017, foram colocados pelos representantes da categoria presentes ao encontro, diversos problemas enfrentados pelos trabalhadores, como fechamento de agências, falta de pessoal e a ameaça de privatização da empresa.

Ao abrir a audiência, a parlamentar federal colocou que o projeto dispõe sobre a prestação preferencial de serviços postais dos Correios pelos órgãos públicos federais da administração direta e indireta. Segundo ela, o objetivo da audiência foi dar ciência aos trabalhadores da proposta, construída pela Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Correios, que reúne parlamentares de diversos partidos, e que os presentes fossem multiplicadores do projeto. “A questão é debater como estão os Correios hoje e como podemos fortalecer uma empresa pública, mostrando que o 100% público é viável” acrescentou, informando ainda que no mundo, as empresas de serviços postais são públicas e apenas uma ínfima minoria é privatizada.

Rosário informou ainda, que o projeto foi entregue ao presidente da Assembleia Legislativa gaúcha, para que ele estude e apresente um projeto de lei em nível estadual que possa atuar com os órgãos públicos a partir da análise da utilização desta ferramenta. “Temos um desafio no serviço público que é o de defender que ele seja viável, democrático e que atenda com qualidade”, disse ela.

O representante da Fentect, José Rivaldo da Silva, defendeu que o momento exige a construção de unidade a partir do ponto convergente que é a manutenção da empresa. Esclareceu que o projeto de fidelização (como está sendo chamada a proposta da Frente), surgiu desde que a empresa começou a dizer que estava falida. Um estudo apontou que o governo federal gasta anualmente mais de 40 bilhões com logística e os Correios realizam muito pouco deste serviço. “O governo federal prefere atuar com empresas privadas”, denunciou.  De fato, os números apontam que atualmente os Correios só operam com 23% da logística nacional e o monopólio representa mais de 50% da receita dos correios, o que sinaliza a importância de manter o monopólio.

Ele esclareceu que a Federação tem falado com diversos parlamentares, através da Comissão de Sindicalistas, para debater formas de assegurar receitas para os Correios e mostrar a falácia do presidente da empresa, que segundo ele, é muito mais um assédio moral para causar medo do que pensar de fato o futuro da empresa. “Esta é uma proposta que vem dos trabalhadores junto com os parlamentares para resolver a situação dos Correios, uma ideia que a direção da empresa deveria abraçar. Se os trabalhadores não abrirem os olhos poderão sofrer o golpe da privatização. Neste sentido é importante irmos para a rua, apoiar a greve geral e denunciar o que está acontecendo com os Correios”, alertou ele.

O representante da Findect, Elias Cezário, fez críticas aos governos do PT, mas defendeu que neste momento a unidade é fundamental.  “Estamos reunindo a esquerda, tentando levantar a força do trabalhador dos Correios, mas para isso temos que tomar ciência que não tem classe, todos são trabalhadores dos Correios.  Temos divergências ideológicas mas estamos unificados, juntos e acredito que a atual direção dos Correios não irá dobrar os trabalhadores. Temos que lutar, protestar e resistir. A situação é difícil, a ameaça de privatização bate a porta, e por isso é importante reconstruir a luta, afinal tudo que temos foi fruto da luta, nada nos foi dado de graça”, reforçou ele.

Apesar de reconhecer que não tem a representatividade oficial dos trabalhadores dos Correios, o representante da Adcap (Associação dos Profissionais dos Correios), reiterou sua disposição de lutar ao lado dos trabalhadores na defesa da empresa. “Estamos no mesmo barco e brigando pelos mesmos objetivos. Temos que unir forças para conseguir soluções para os problemas da empresa”, frisou Paulo Édison Tocchetto.

O dirigente destacou que o Correios já chegou a ser considerada a quinta maior empresa de correios do mundo e ainda hoje, apesar de tudo, é a segunda instituição mais respeitada no país, perdendo apenas para a instituição família. “Assim, a empresa tem condições de se recuperar. É incompreensível a postura do” presidente de passagem” (referindo-se ao presidente da estatal), que na nossa opinião não tem condições de ser presidente da empresa”.

Em sua fala, o Secretário-Geral do Sintect-RS, Yuri Aguiar, iniciou destacando ser importante qualquer iniciativa que visasse fortalecer a instituição Correios. Mas lembrou que muitos parlamentares que compõe a Frente, votaram favoravelmente a MP 532, que alterou o estatuto da empresa e abriu possibilidade da empresa para que o atual presidente possa fazer, agora, todas as mudanças que estão sendo feitas, inclusive a privatização.

O dirigente frisou que foi a partir desta Medida, em 2011, que iniciou o processo de desmonte dos Correios. “O desmonte da empresa não começa em 2016 e nem com a queda da presidente Dilma. Ela começou de outros governos, desde os anos 90, com as privatizações, e depois com a instituição do projeto “Correios 2020”, com a aprovação da MP 532, que adotou para o Correios uma visão de mercado, com poder de abrir capital, constituir subsidiárias, e que possibilitou que o atual presidente Guilherme Campos tenha todas as armas. As políticas estavam todas prontas. Precisamos refletir, passar o passado a limpo e ver os erros. Somos contra a privatização e contra  a criação de subsidiária, contra a CorreiosPar, com diretoria recebendo salários e outros desmandos”, acrescentou.

Yuri lembrou que os trabalhadores do RS sempre foram contrários a privatização e foi o único estado a fazer greve contra a MP. “O movimento sindical tem uma trajetória de coerência, contra o Postal Saúde, contra a MP 532, a favor da contratação por concurso público”.

Segundo ele, alguns colegas estão assinando o plano de demissão voluntária porque não têm mais perspectiva dentro da empresa e os mais novos saem porque não vislumbram uma carreira de qualidade. “Companheiros com 30, 35 anos de empresa estão saindo porque não sabem o que vai ocorrer amanhã”, denunciou. “Este tem que ser principal compromisso daqueles que se propõem a lutar pela empresa, contratar pessoas para continuar mantendo os Correios o que sempre foram”.

No final de sua fala, Yuri lamentou a ausência da direção dos Correios, que apesar de ter sido convidada, fugiu ao debate. “Eles nunca participam, demonstrando o descrédito com que tratam o que está sendo construído. Demonstram uma atitude de quem não tem compromisso com a democracia, com o debate”, criticou.

Último a falar, o representante do Sindicato dos Trabalhadores de Correios de Santa Maria, Ernani Silveira de Menezes, disse que o sindicato havia analisado o projeto e considerou a proposta interessante, com possibilidade de revitalizar os Correios. Mas ratificou as colocações do presidente do Sintect-RS de que desde 2011 sai pessoal, agravando a questão dos efetivos e que o atual presidente pegou tudo pronto para tomar as atitudes que está tomando hoje. Também concordou com a necessidade de lutar por concurso público para que os Correios continuem prestando o serviço de excelência que sempre prestaram.

Informou que uma das ações do Sindicato tem sido a de percorrer as Câmaras de Vereadores, realizando audiências públicas para debater a situação dos Correios e buscar apoio a luta dos trabalhadores. “A categoria vai ter que se preparar para a luta de manutenção do plano de saúde e de uma empresa pública e de qualidade. Será necessário muita mobilização e muito trabalho”.

Antes de encerrar a audiência, foi aberta a fala aos participantes da audiência, que colocaram os diversos problemas enfrentados pela categoria e a importância de defender a empresa contra a privatização.

No final, depois da posição favorável do RS ao projeto de fidelização, como encaminhamento foi definido que os Sindicatos devem manter e ampliar a realização de audiências públicas nas Câmaras de Vereadores. Neste sentido, a Frente Parlamentar, integrada por 202 deputados de diversos partidos, enviará correspondência aos mais de cinco mil municípios brasileiros, solicitando que os presidentes das Casas atendam aos pedidos de audiência dos trabalhadores de Correios.

Também foi destacada a importância de que os trabalhadores pressionem os deputados em suas bases eleitorais, para que não votem qualquer proposta contrária aos trabalhadores ou que indique a privatização da empresa.

Assessoria de Comunicação

12/06/2017 20:20:05

Nara Soter